Traduzir em um pequeno número de fotos, toda a história de lutas, resistência, tradições e costumes do Quilombo São José da Serra e seus quilombolas, é o maior e, ao mesmo tempo, mais delicioso desafio para um velho fotógrafo de publicidade.

     Dar a chance para a imagem se impor à câmera, sem compromissos com clientes, com diretores de arte ou com layouts: quase uma conversa descompromissada entre luze e sombras.

     Uma magia capaz de imprimir na foto o sabor e o cheiro da comida, na panela sobre o fogão a lenha; gravar sentimentos e afetos; reproduzir a essência da Fé: na Umbanda e no Catolicismo; prever a traquinice infantil escondida num olhar ingênuo de criança...

     Quilindo Quilombo não tem nenhuma pretensão além de deixar que os quilombolas se mostrem brasileiros, moradores de um local que já serviu, o passado, de refúgio para os seus antepassados que conseguiram escapar do jugo escravocrata. Que fazem parte do conjunto da sociedade brasileira que trabalha, consome e paga impostos, gerando a riqueza que forma o PIB do Brasil.

     Que mostrem, também, sua luta, há anos, pela posse desta terra em que, por gerações, vivem há mais de 150 anos. Terra que já alimentou tantas pessoas e que está sendo destruída para alimentar gado, mas que em suas mãos serão naturalmente recuperadas.

Davy Alexandrisky